11 de mai. de 2010

Quando uma importante sustentação se rompe

Por: Daniel D'Alessandro 

Até que ponto é capaz de chegar a dicotomia existente entre o jornalismo enquanto mercado de trabalho e seu ensino?

Difícil conseguir uma resposta precisa. O Brasil testemunhou em 2009 a revogação da obrigatoriedade de formação específica para o exercício dessa profissão, fazendo com que grande parte da população parasse para pensar – mesmo que por alguns instantes, apenas - sobre de que forma tal decisão repercutiria na qualidade das informações que o jornalismo ofereceria dali em diante.

O fato demostra a importância social da área e a consciência da comunidade a respeito disso. Em rodas de conversas descompromissadas, há a oportunidade de ouvir, após a afirmação de que se estuda jornalismo, que o que foi estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal é um absurdo. ¨Que dó que eu tenho de vocês¨, dizem. Como categoria, os jornalistas foram praticamente unânimes no posicionamento contrário ao fim da obrigatoriedade. Discordou-se e protestou-se, o que mostra todo o apreço existente na profissão pelo ensino formal de jornalismo, que inclui conhecimentos teóricos e éticos.

Já nos disse Paulo Francis: ¨só não se contradizem os burros, os que não têm vontade de evoluir¨. Mas é preciso ressaltar que a contradição é benéfica buscando melhoria, não retrocesso. O próprio autor desse texto foi contrário ao STF com veemência. Depois de quase um ano, contudo, algumas observações de cidadãos comuns sobre essa profissão levam a outra reflexão. Contribuem para essa percepção fatos recentes na Universidade Positivo. Melhor dizendo, grande número de profissionais da área convencem-se de que a decisão foi acertada e que grande culpa disso é dos próprios cursos superiores de jornalismo. Infelizmente, tem-se a impressão de que as graduações em jornalismo estão cometendo algo próximo do suicídio ao não se adequar às mudanças representativas que a área sofreu. Às vezes, podem surgir ainda outros problemas.

Com um pouco de exagero, afirma-se que a discussão sobre a relevância ou não das teorias do jornalismo é secular. Como em toda polêmica, o consenso é complicado. O que sustentava uma grande percepção de necessidade do ensino específico era justamente o conhecimento ético e moral que as faculdades são incumbidas de proporcionar. O pensamento era algo parecido com: se não existe certeza a respeito das teorias, muitos acreditam que as faculdades são responsáveis pela formação de conduta adequada dos profissionais.

Mudando de assunto, é válido lembrar também que uma das principais mudanças que devem ocorrer no jornalismo é o fim do caráter ditatorial que muitas redações apresentam. Os mesmos chefes preocupados em noticiar atos ignorantes dos governos Chávez, Ahmadinejad, e Kim Jong-II não hesitam ao lidar com os repórteres de maneira autoritária e repressiva. A única lógica intocável existente é a do setor financeiro, custe o que custar. Não se leva em consideração o que os repórteres têm a dizer, apenas o que eles têm a fazer.

É com tristeza que os alunos presenciam uma tentativa de monopólio digna de ditadura no jornal laboratório da Universidade Positivo. O discernimento e a interpretação a respeito disso ainda estão em formação, o que não anula a característica ruim do fato: o professor Marcelo, que possui entre os conteúdos das aulas censura prévia da ditadura militar e Joseph Goebbels, com atitudes tão antidemocráticas no comando de um jornal que está a serviço de docentes, mas também e principalmente, dos alunos. Grupos tiveram a oportunidade de, em sua disciplina, pesquisar acerca de jornalismo feito de maneira autônoma, livre. O descontento aumenta quando fica claro que o coordenador do curso é favorável a essa situação. Além disso, não há como aceitar o veto ao editorial que explicaria a volta da impressão em preto e branco.

O que fazer, então, quando nas faculdades, onde se ensina sobre Wladmir Herzog tomam-se atitudes déspotas na orientação aos alunos? Se um grande pilar que sustentava as universidades de jornalismo é rompido pelas próprias, como defendê-las? Sim, muito cuidado com as generalizações, há na Positivo quem nunca tenha decepcionado quando a questão é senso democrático e tolerância. Fique claro também que a intenção não é incitar ao abandono de curso.

Convém retomar a questão levantada na introdução deste texto. Qual a dimensão da distância entre o jornalismo-mercado e o jornalismo acadêmico? Pequena, pode ser a resposta. Não porque a prática finalmente anexou preceitos pedagógicos ignorados, mas porque o universo acadêmico também é capaz de incorporar sérios males antes repelidos do interior dos cursos. Que nós, alunos, consigamos dentro da faculdade dar prosseguimento ao que aprendíamos com ética.

Que nosso blog não se junte às várias iniciativas frustradas que se viu na História. Que os objetivos concretos sejam visualizados e alcançados

3 comentários:

  1. Agora sim! Algo fundamentado.
    Apoio o Daniel em 95% do que escreveu.

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  2. Eu concordo com 90%

    E depois de começar com dicotomia, quero ver alguem reclamar de colisões.

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  3. Ainda bem que esse é um ESCRITO e pode ter palavras assim. Ainda mais por causa do alvo que ele está direcionado! Hááá Mad! HAHAHA

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